quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Aço em Salvaterra

Mais uma época de toiros à porta e, com ela, o primeiro treino do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, que teve lugar no passado dia 10 de Fevereiro, no tentadero do Senhor João Ramalho, em Salvaterra de Magos, a quem agradecemos e que fez o favor de pôr à disposição do Grupo quatro vacas bem apresentadas, as quais serviram muito bem, dando rijas e boas pegas. Dada a muita chuva que se fez sentir durante toda a semana que precedeu o treino, o tentadero tinha algumas poças, o que sempre dá para gerar umas risadas cada vez que alguém vai ao chão.Como vem sendo hábito no primeiro treino de cada ano, muita rapaziada nova aparece, levada por amigos, familiares, amigos de amigos, enfim… Um número sem fim de curiosos desejosos de experimentarem a arte de pegar e outros tantos que mal podiam esperar para ver os seus amigos mais novos tocarem pela primeira vez na pelagem de bravas reses, sentir o seu cheiro característico, depararem-se com as inúmeras dificuldades que lhes vão surgindo, quando antes até achavam fácil (talvez por terem visto na televisão, ou mesmo em praça, forcados experientes, pegados e de renome fazer da difícil arte de pegar toiros à unha uma tarefa simples). Termos como parar, mandar e templar, cite, sítio, carregar, dar o passo, investida, encher a cara, mãos quietas, tourear, sacar, dar voz, estranho, mal-visto, reunião (reunir), terrenos, refugiado em tábuas, são, para muitos deles, novidade.Outros há que, embora nunca se tenham fardado e nunca tenham sentido a emoção de estar numa arena fardados pelo Grupo, ou tendo-se fardado poucas vezes, têm anteriores épocas de treino consigo e uma ou outra ajuda em praça e, dessa forma, não é difícil que se destaquem um pouco mais, mostrando, até, outro “à vontade”.Aos primeiros, o cabo Tiago Prestes, incansável, chama-os à parte, ensina-lhes a técnica e a postura, mostra-lhes o sítio das mãos, o recuar, o carregar, as distâncias, a colocação em praça. Aos segundos, por vezes, lá sai um: “já tens obrigação de saber como é”, “o que é que ‘tás a fazer?!”, “já reparaste que ‘tás todo torto e desenquadrado com a vaca?!”…
Viveu-se um ambiente de contagiante alegria. É toda esta rapaziada que vai aparecendo que dá ambiente a qualquer grupo que se intitule Grupo de Forcados. Cada qual, ultrapassando as dificuldades honrosamente, vai aparecendo aos treinos, depois às corridas, continuando a acreditar em valores superiores que lhes foram legados por gente de carácter, gente de princípios e gente de bem, uns pelos pais, outros pelos tios, outros por irmãos, e outros mesmo por amigos de liceu, de faculdade ou de trabalho. Nós, mais velhos, cá estamos para tentar transmitir experiência e qualidade de forma a assegurar a continuidade da história do Aposento da Chamusca, sempre com muita afición e alma toureira, assumindo um papel de responsabilidade, com a ajuda de todos e com a ajuda de Deus, entrando, dessa forma e com esse espírito, na nova temporada de 2007, sempre cientes que a verdadeira recompensa do forcado é a glória de pegar e de ter pegado.
Para finalizar, e em especial para os mais novos que demonstraram toda a sua raça e vontade no seu primeiro treino, aqui deixo transcritas umas palavras do escritor Espanhol “El Terrible” Perez: “Os valentes forcados portugueses, homens de jaqueta de ramagens e barrete, que de frente, a dois metros, a corpo descoberto, batem as palmas aos touros. A valentia é condição indispensável, não só porque lutando com feras se expõe a vida, mas também porque, sem ela, não haverá tranquilidade necessária para apreciar as condições das reses e dos terrenos, e para encostar a solução mais adequada no momento do perigo, nem se poderá tirar partido das próprias condições físicas, porque o medo enfraquece os músculos e excita os nervos. Os forcados são representantes do toureio português”.
Que Deus nos ajude e sorte!
José Pinto-Coelho

1 comentário:

Anónimo disse...

pelo aposento venha vinho!